sábado, 27 de junho de 2009

Caminho


Escutar o silêncio da alma. Esvaziar-se para preencher-se. Para ser outro, o mesmo, o mesmo de sempre, guardado e esquecido num canto escuro. Reposicionar o "si", pra ter um "la" inundado de "sol". Orquestra de anjos, anunciando um novo momento. Música para os olhos, perfume para os ouvidos, gosto para os dedos, num só movimento único e grandioso, onde não haja mais separação entre Eu e Deus. Entre Mim e Ti. Entre Tu e Deus. Entre Nós e Ele. Tornamo-nos assim, e só assim, incrivelmente únicos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Eu?

Uma mistura de alguém que arrancaria o coração do peito pra doar e de alguém que arrancaria o coração do peito de alguém para doar. É, de uma forma ou de outra, intenso. Hahaha
Mas ainda sem perder a ternura.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Memórias da Chuva


A chuva, sempre por um fio, constante ameaça. Ciclo da chuva. Condensação de alma, precipitada demais. Precipitei-me em querer enxergar através da neblina. Mal enxerguei, saí por aí andando, tropeçando no nada, no afastamento, no acostamento. O que esperar da tempestade? Clichê falar que há males que vem pro bem. Difícil não enxergar como catástrofe que desaba casas e arrasa construções. E a talvez inocente idéia de que das ruínas se constrói algo novo. Alaguei-me e permaneço com lama até as canelas. Dizem que caminhar assim fortalece as pernas. Sem remo, nem canoa. Prestes a cair num buraco a qualquer momento. E ter que recomeçar o caminho, em marcas d'água. Pisando em gotas. Construo barquinhos de papel e brinco pelo acostamento. Um cantinho, uma fresta de correnteza, um fluxo que resta. Desnivelamento, barranquei-me esparramada pelo asfalto. Pequena nuvem, em cima da minha cabeça, acompanha meus passos. Tento eu dar passos largos. Já sentiu existir uma nuvem só sua? Perseguidora nuvem. Enquanto todos caminham secos, deixo meu rastro de água e molho justamente a calçada do vizinho. Quem mais amei. Tudo cinza, cinza, cinza. Olha, ficar em baixo das árvores há risco de raio! A chuva caindo das árvores são folhas secas de outono. Pego-me dormindo e brincando entre estalinhos de folhas, umas nas outras. Valseio algumas palavras de amor que já não bastam mais. Passarinhos morreram na última tempestade. Foi muita água, foi tanta água que até o canário se afogou. O mais bonito. O mais puro. Mas eu juro, eu juro que nunca matei passarinho, passarinho não. Alguns sonhos. Cantei. Olhando a chuva fina da janela. Chovia em mim. Eu chovia. Na estação da chuva sequei-me por dentro. Tivera esperança. Sim, esperava a chuva de arroz banhar-me, mesmo que permanecesse achando grãos em mim por semanas, anos, a vida toda, infinitamente, nos cabelos, nas orelhas, entre os dedos. De mim, flexões, reflexões, reflexos do que nunca fui. Na melhor das hipóteses, silencio-me em poucas palavras. E continuo tentando falar menos do que o necessário. O justo. O quase não dito.