domingo, 9 de março de 2008

Manifesto




Manifesto Poético pelo Afeto – Danilo Dal Farra.

Só o afeto nos põe em contato real conosco e com os outros. O afeto não passivo, o afeto atuante, fruto de uma agressividade por vida, como a árvore que quebra, com suas raízes, o concreto das calçadas.
Contra toda hipocrisia de sorrisos amarelos e relações à meia ponta, eu apelo pela urgência deste contato. Pela liberdade de ver, olhar, enxergar, de verdade, toda a verdade, seja ela o que for, sem filtros, e tocá-la, tendo ela a aparência que tiver, tendo ela defeitos na pele.
Que essas verdades sejam berradas nas ruas, que as troquemos nas praças, que dancemos com todas nos palcos, que nos embriaguemos das nossas e quantas mais quisermos. Que elas possam ser feias e bonitas, boas e más, como as coisas que são desse mundo. E que, ainda assim, possam se transformar a qualquer momento.

Queria me fazer entender de modo ríspido e simples como tiro no peito, mas sou poeta, vejo cenas do meu passado. Vejo um ensaio de escola de samba no morro, uma Folia de Reis que corre a rua, uma feira folclórica com poetas e cantadores. Vejo também pessoas comprando em um grande shopping da cidade grande, grande, grande, tão grande que não me lembro...
Vejo o menino correndo nu, filho de todo mundo. Vejo-me garoto, comendo no prato de alguém que não sei quem, naquela multidão de rostos fraternos da praça da igreja. Vejo também, desde sempre, tantas crianças artistas. Mas vejo os falsos poderes e o número de fitas de videogame, o olhar distante, muros altos, crianças adultas... Espera aí, Espera aí... Eles se esbarram, duas crianças, uns seis anos mais ou menos, eles se olham... Mas o tempo dos adultos lembra que é hora, que é hora, que é hora, da aula de inglês, do kumom, da computação... Porque eles serão preparados para o mundo, para o futuro, para aprender as coisas que os adultos têm para ensinar.

INDIGNAÇÃO! Mesmo que poética, INDIGNAÇÃO!

Pessoas constroem muros entre elas enquanto a religião derrama culpa num caldo grosso de moldes sociais onde, mergulhados, desistimos de tentar nadar até o outro...
Pois não desistam! Não desistam de tocar no que é você e no que são os outros. Logo aí depois das máscaras!

Que as televisões sejam desligadas e que as pessoas conversem, que saiam da internet e se reúnam ao redor de grandes fogueiras, tocando, cantando e fazendo poesia. Que possam se olhar nos olhos e que nesses olhos vejam a si mesmas para então poderem falar de amor. De amor de verdade. Sem subir de volta a superfície, mas mergulhando cada vez mais fundo no olho do outro, onde possam encontrar o contato verdadeiro e que, por causa dele e através dele, se expressem. Que essa expressão seja sincera, espontânea e divina como a de criança humana. Que rompa a neblina e quebre os muros dos labirintos criados pela falta desse amor. E que os olhos vejam só os olhos. Que esse olhar faça brotar flores e amarelas elas sejam, para colorir esse caminho que é de cada um e é de todos. E assim, entendam todos que o pecado é não viver. E que a compreensão da mais pura das verdades, que é a da necessidade do outro e de si próprio, leve consigo, como forte vento, todos os medos.
Que as pessoas se toquem, troquem afeto e sejam, simplesmente sejam, como humanas crianças eternamente, assim como o Cristo do Poeta o fez.

Agradeço aos qua acreditam em mim, me estimulam e incentivam e também aos que não acreditam, me provocam, me testam e me fazem reagir. Dedico este manifesto simples e talvez ingênuo, aos meus amigos artistas. Pelo contato e afeto que, muitos sem saber, me dedicaram, me fazendo recordar que nossa arte é sobre relações humanas e generosidade. Obrigado.

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